Agro em Questão: Financiamento para o Agronegócio foi um evento que acertou em cheio a grande batalha que vem pela frente para garantir a continuidade do crescimento da produção brasileira. O evento, promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, aconteceu em Brasília, na última semana.  A CNA confeccionou um Guia dos Títulos do Agronegócio que está disponível para download no site da entidade, a chamada sopa de letrinhas que tem garantido o financiamento das safras com detalhes sobre o que é e como funcionam os títulos: Cédula do Produtor Rural (CDR); Certificado de Depósito Agropecuário (CDA) e Warrant Agropecuário (WA); Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA); Letra de Crédito do Agronegócio (LCA), Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio em Moeda estrangeira; Green Bonds.

A preocupação está na busca de alternativas de fontes de financiamento compatíveis com a realidade do setor. O sistema financeiro cada vez mais seletivo e os cortes orçamentários que tiram recursos.

Vem aumentando a participação do capital próprio como fonte de financiamento, do setor agropecuário. O capital próprio dos produtores representa 39%, bancos 31%, indústria de insumos 4%, revendas 9%, cooperativas 15% e trading apenas 1%.  A equalização dos juros vai ser uma missão cada vez mais difícil. Por esse motivo, todos que participaram do evento na CNA bateram na mesma tecla: SEGURO RURAL consistente.

No evento, Alexandre Mendonça de Barros, sócio-consultor da MBAgro falou abertamente, apontando o que vem travando o desenvolvimento do seguro rural no Brasil.

Confira a palestra:

“Me assombra a consistência nos discursos e não na ação. Existe um conflito entre setor privado e público, que não vai levar a lugar nenhum,  é uma desconfiança com taxa, dizendo que o setor privado está ganhando muito, não vai dar pra subsidiar tanto, conversa que não resolve.  Seguro rural é falha de mercado, o seguro não nasce espontaneamente, não tem nada ver com Estados Unidos. Existe uma simetria muito grande da percepção de risco entre o produtor e a seguradora. Se eu tenho uma carteira pequena, tenho que diluir meu risco, se eu entrar neste lugar com alto risco de sinistro eu quebro, por isso tenho que cobrar uma taxa mais alta, aí o produtor não entra porque não tem recurso e o mercado não acontece. Os Estados Unidos até hoje subvencionam, então a carteira vai crescendo e a taxa vai melhorando, por isso tem que estimular para que o mercado possa acomodar naturalmente as taxas. Trabalhar forçando uma taxa média é furada”, disse.

O presidente da Comissão Nacional de Política Agrícola da CNA, José Mario Schreiner, apresentou como vem sendo feito o financiamento da safra e a preocupação com o futuro de fontes alternativas, e, claro, destacou a importância de garantir um seguro rural que tenha como foco a renda do produtor e não o financiamento. O ministro da  Agricultura, Blairo Maggi, também disse ser fã número um do seguro rural, mas sabe das dificuldades orçamentárias, por isso o setor tem que eleger as prioridades. Em entrevista para a revista Dinheiro Rural, ele disse:

“Se tenho uma frustração é o seguro rural. Gostaria de ter feito mais. Queria deixar um modelo de seguro de renda e de produção adequado ao produtor. Mas seguro é um tema complicado, porque depende de muito dinheiro. Para a subvenção, precisaríamos de pelo menos R$ 1 bilhão”.

Mas ninguém assumiu valores que possam efetivamente entrar no orçamento como subvenção do Seguro Rural e dar tranquilidade para que o mercado aconteça de verdade. Fica no ar a expectativa de quando o discurso vai sair do papel e entrar na ação.  Muita contradição. Enquanto os produtores esperam pela subvenção, o governo tenta fugir do compromisso para colocar nas mãos da iniciativa a busca por recursos para pagar as apólices.

Marcelo Lara – colunista do suino.com