Nesta semana foi possível ver mais do mesmo e os embates de uma sociedade dividida, com prejuízos e desgastes para o setor produtivo, que precisa estar unido para lutar contra os entraves que dificultam a competitividade de um dos principais pilares da econômica brasileira: o agronegócio.

A boa sinalização veio da posse da nova diretoria da Aprosoja Brasil, o produtor rural Bartolomeu Braz Pereira é o novo presidente da entidade, substituindo o produtor Marcos da Rosa. Pereira terá um mandato de dois anos. Na solenidade, foi perceptível a proximidade forte com a Frente Parlamentar da Agropecuária que vem mostrando uma coalizão inteligente e focada em defesa da produção brasileira e discutindo no Congresso com argumentos técnicos e fugindo do debate raso e recheado de demagogia, com gritos como foi no caso da audiência sobre defensivos agrícolas.

A sociedade levada pela postura parcial da imprensa com jogo cultural de combate ao agrotóxico de uma maneira irracional. A sessão foi tão tumultuada que nem foi possível debater. Quando faltam argumentos para quem abraça a ideologia não tem fato técnico que mude o comportamento e que faça os processos andarem no Brasil.

Vamos lá, começando pela principal polêmica: a mudança em texto do nome agrotóxico para Produtos Fitossanitários. No Mercosul, o nome usado oficialmente é Fitossanitários, e na União Europeia que tanto se usa para comparar, o nome é ainda mais correto Fitofarmacêuticos.

No Brasil, 28% dos casos de intoxicação por agroquímicos são por medicamentos. Quando se registram mortes por defensivos agrícolas, o suicídio representa 97% dos casos. O remédio da dose certa cura, é assim nas lavouras, da forma correta resolve o problema de um país tropical. Ao agilizar os registros de novas moléculas, teremos produtos mais eficientes e a natureza vai agradecer, assim como a produção vai chegar ainda mais saudável na mesa do consumidor.

O produtor não é apaixonado pelos defensivos, é uma necessidade cara aos bolsos de quem produz, por isso as técnicas e o uso racional estão melhorando a eficiência da produção. Os mitos criados são lendas. Mas como foi no código florestal, os gritos vão ecoar, mas, no final, a razão deve vencer em cima de dados técnicos e não falácias de números analisados sob a ótica ideológica.

Endividamento agrícola e o seguro rural como solução

Outra audiência pública importantíssima e necessária foi do endividamento, convocada pelo deputado Jerônimo Goergen na comissão Externa da Câmara dos Deputados. Mais uma vez o cenário é o mesmo: os produtores chegam a agradecer ao banco que prorroga as dívidas. O papel de bombeiro segue com as lavouras em chamas.

O vice-presidente da Comissão Nacional de Política Agrícola da CNA, Confederação da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o economista Pedro Loyola, apontou para o Seguro Rural como solução para tirar da mesa de negociação as dívidas de quem ficou calçado com um bom seguro, e se o clima não foi favorável, a apólice vai cobrir o prejuízo e a vida segue como ocorre em países como Estados Unidos, que têm seguro rural há mais de quatro décadas.

Mas para isso precisa de uma política certeira, começando com R$ 1,2 bilhões de subvenção para dar suporte aos produtores rurais e tempo para as seguradoras investirem em produtos cada vez mais eficientes dentro da realidade de cada região do país. E, no futuro, teremos seguros com preços melhores com a demanda crescendo e a concorrência se ajustando e o fim de debates sobre dívidas.

O governo deve entender que a subvenção em seguro rural é um investimento que vai ter retorno para toda a sociedade, do emprego no campo ao fim das dívidas. O plano safra pode se tornar apenas uma diretriz. Com o campo segurado, os financiamentos vão ter juros melhores. Mas é um processo que deve ter consistência e não uma gangorra de investimentos a cada ano, uma luta para liberação dos escassos recursos que sobram para o seguro rural.

A Comissão Externa Sobre o Endividamento Agrícola deve apresentar no dia 23 de maio o relatório final e apontar sugestões para o enfrentamento da crise que atinge diversos setores do agronegócio, como arroz, leite, café, avicultura e suinocultura.

Por isso o debate sobre o endividamento que é sério, é um eterno apagar de incêndio. O governo já confirmou que tem para equalização dos encargos financeiros, R$ 9,8 bilhões. Dos quais R$7 bilhões estariam comprometidos com a continuidade das prorrogações de dívidas acumuladas. Não tem mais do que 1,2 para equalização de taxa de juros para a próxima safra 2018/2019.

Quantos elos para serem estruturados. Setores como leite e arroz têm profundas questões estruturais para garantir segurança aos produtores. E os fertilizantes? Assunto que rende muito desde a falta de investimentos para aumentar a produção brasileira de N.P.K. (nitrogênio, fósforo e potássio), até a logística para reduzir custos.

Assuntos nobres que precisam de soluções criativas, investimentos assertivos e jogar para o alto a demagogia, a ideologia, lutar pelo progresso que está no campo, é onde podemos mudar o país aos olhos do mundo. Mas os olhos dos brasileiros precisam estar bem abertos, assim como as mentes iluminadas para entender que estamos dando tiros nos pés com brigas rasteiras fazendo a alegria dos concorrentes internacionais e fomentando um Brasil do atraso.

Marcelo Lara – colunista do suino.com