O segundo semestre de 2019 veio como um alento para a suinocultura. No mês de agosto, a expectativa foi positiva para o mercado doméstico. Após uma queda acentuada nos preços, o índice de suínos vivos para abate se manteve estável. Observou-se também no início de setembro uma reação dos preços e um fato novo que dá mais otimismo aos produtores: a liberação de novas plantas para exportação de carnes para a China.

Este período do ano costuma ser de manutenção ou alta de preços pagos ao produtor de suínos, em função do aumento da demanda para os festejos de final de ano. No acumulado do ano, o Brasil ainda está com volumes exportados superiores não somente ao ano passado, mas também ao ano de 2017, quando o país teve exportação recorde de carne suína.

Gráfico 1. Evolução preço do suíno vivo, em cinco estados (MG, SP, PR, RS e SC), nos últimos 30 dias (até 17/09/19), mostrando estabilidade nas últimas semanas de agosto e início de setembro. A partir da segunda semana de setembro, coincidentemente na mesma semana do anúncio da liberação de novas plantas de exportação para a China, houve uma mudança no viés, indicando nova alta em algumas praças. Fonte: CEPEA.

De acordo com um comunicado do GACC (órgão sanitário chinês) enviado em setembro ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), mais 25 plantas frigoríficas brasileiras estão habilitadas a vender carnes para a China. Dos novos estabelecimentos habilitados, 17 são produtores de carne bovina, seis de frango e somente um é de suínos (BRF Lucas do Rio Verde-MT). Segundo o MAPA, as empresas já podem exportar imediatamente.

A habilitação de novas plantas ocorre paralelamente à iniciativa do governo chinês de liberar para a população o consumo de reservas de emergência de carne suína. Segundo a revista Suinocultura Industrial, pelo menos quatro cidades ou províncias que abrigam cerca de 130 milhões de pessoas começaram a baixar estoques para inundar o mercado com carne suína congelada, na tentativa de estabilizar os preços e aumentar a oferta. Esta informação corrobora a verdadeira explosão dos preços dos suínos no mercado doméstico chinês ao longo do ano e, especialmente, no último mês, como pode ser observado nos gráficos a seguir (preço do cevado e do leitão na China):

Gráfico 2. Evolução do preço semanal do suíno cevado na China, mostrando quase 80% no acumulado do ano até início de setembro. (Fonte: MBAgro/MARA).


Gráfico 3. Evolução do preço semanal do leitão na China, mostrando aumento de 106% no acumulado do ano até o final de agosto. (Fonte: MBAgro/MARA)

Esta inflação da carne suína na China é resultado das perdas relacionadas à Peste Suína Africana (PSA), ainda sem controle e que determinou o abate e sacrifício de quase 40% do rebanho, como pode ser observado no gráfico a seguir:

Gráfico 4. Variação percentual (redução) do rebanho total e matrizes na China ao longo do ano de 2019, até agosto. As perdas estimadas já se aproximam de 40%. (Fonte: MBAgro/MARA).

Segundo o MBAgro, é possível que as estimativas sobre o estoque de animais continuem piorando enquanto não for observado sucesso no controle da doença e na retomada dos alojamentos. Além disso, a doença continua se espalhando nos países vizinhos. Considerando que parte da redução do rebanho são animais sadios (ou não foram notificados) e serão consumidos, a produção de carne suína cairá menos que o rebanho suíno. Entretanto, no ano que vem, com o rebanho muito menor, o nível da produção doméstica será baixo, dado que não haverá este efeito de estoques. Com os preços em alta e a demanda reprimida existe um grande espaço para o aumento das exportações de carne suína, frango e bovina para a China.

Mais recentemente, a Coreia do Sul notificou o primeiro foco de PSA no país. Com essa notificação, já são três grandes produtores asiáticos de carne suína: China, Vietnam e Coreia do Sul afetados pela PSA, o que pode determinar um incremento ainda maior na demanda de carne suína na Ásia nos próximos meses, beneficiando os exportadores do continente americano e Europa.

Mercado de carnes

Dados do IBGE divulgados no 2º trimestre de 2019 mostram que as principais atividades da pecuária cresceram em relação ao mesmo período de 2018: houve alta no abate de bovinos (3,5%), de suínos (5,2%) e no de frangos (3,4%). Segundo MBAgro, a demanda externa, impulsionada sobretudo pela China, favoreceu o mercado de carnes. Além disso, a base de comparação entre os segundos trimestres de 2018 e 2019 foi afetada pela paralisação dos caminhoneiros, ocorrida ano passado, contribuindo para a ocorrência das variações positivas.

Tabela 1. Dados de abate de suínos no Brasil no primeiro semestre de 2019 e comparação com o mesmo período do ano passado, mostrando crescimento da ordem de 5,2%. (Fonte: IBGE. Elaboração MBAgro).

Exportações brasileiras: China na liderança, Rússia reduz compras e outros destinos crescem

Apesar do aumento das importações chinesas em 2019, o volume total dos três principais destinos (China, Hong Kong e Russia) somados em 2019 ainda é menor que o mesmo período de 2018 em quase 13%. Mesmo assim, no acumulado do ano em 2019 os volumes totais de carne in natura exportados superam em pouco mais de 5 mil toneladas o volume do mesmo período de 2017, quando a exportação foi recorde e a Rússia detinha quase 40% dos embarques. Ou seja, houve um aumento considerável de exportações para outros países que não estes três destinos (35 mil ton. a mais no ano). Chama a atenção o Chile que no acumulado do ano já comprou pouco mais de 30 mil toneladas de carne suína in natura do Brasil (50% a mais que no mesmo período do ano passado). Com esse volume o Chile assume o posto de terceiro maior destino de nossa carne suína (Dados do MDIC).As tabelas a seguir detalham bem esta situação:

Tabela 2. Exportações totais de carne suína brasileira in natura (toneladas e receita) de janeiro a agosto de 2019 e comparativo com o mesmo período de 2018. Apesar da queda dos embarques em agosto, houve um aumento de quase 60 mil toneladas e mais de 180 milhões de dólares no comparativo do acumulado de janeiro a agosto entre os dois anos. (MDIC).


Tabela 3. Volumes de carne suína in natura embarcada para os três principais compradores de 2019 (MDIC). Enquanto a China aumentou suas compras em relação ao mesmo período de 2018, de janeiro a agosto, em quase 30%, Hong Kong reduziu em quase 14%. A Russia, que até 2017 comprava cerca de 40% de nossas exportações, em agosto, perdeu a terceira posição para o Chile que acumula 30.076 toneladas embarcadas. (MDIC).


Tabela 4. Volumes de carne suína in natura embarcada de janeiro a agosto para os três principais compradores de 2019, em comparação com o mesmo período de 2017, quando a Rússia ainda era o principal comprador de carne suína brasileira e quando o Brasil bateu recorde de exportação. A soma destes três destinos em 2019 é inferior a 2017 em quase 13%. (MDIC).


Tabela 5. Volumes totais de carne suína in natura embarcada de janeiro a agosto de 2019, em comparação com o mesmo período de 2017. A redução dos embarques para o “trio” China/Hong Kong/Russia, foi compensada pelo aumento em 35 mil toneladas para outros destinos. O Chile que agora ocupa o terceiro lugar, em relação ao mesmo período de 2017, aumentou as compras em pouco mais de 15 mil toneladas, um crescimento de 103% de 2017 para 2019 (janeiro a agosto). (MDIC)

GRÃOS: Expectativa de colheita é baixa para safra norte-americana, mas preços estão estáveis no mercado doméstico

O USDA divulgou em setembro o último relatório de projeção da safra norte americana. A produção de soja dos EUA foi estimada em 98,9 milhões de toneladas, contra 100,2 milhões de toneladas do relatório de agosto. No Brasil, a colheita da segunda safra de milho está finalizada. A oferta passou dos 100 milhões de toneladas em 2019 e a exportação segue batendo recorde de volume mensal. Somente em agosto foram 7,6 milhões de toneladas embarcadas, chegando a 19,4 milhões de toneladas no acumulado do ano. Para 2019 a previsão é de 37 a 38 milhões de toneladas (MBAgro).

O preço do milho subiu no final de agosto e início de setembro na maior parte das regiões do Brasil (Grafico 5 ), impulsionado pela maior demanda interna, pelo dólar elevado, pelo ritmo intenso das exportações (Grafico 6) e também pela retração vendedora (CEPEA).

Gráfico 5.  Preço do milho, saca de 60kg (Campinas-SP), entre agosto e setembro (até 16/09). Fonte CEPEA


Gráfico 6. Exportações de milho batem recorde pelo segundo mês consecutivo, em agosto de 2019, atingindo o volume de 7,6 milhões de toneladas no mês e um acumulado de 19,4 milhões de toneladas no ano. (Fonte: Secex. Elaboração MBAgro)

Com relação à soja, no mercado interno, o preço em agosto apresentou alta acima de 10 pontos percentuais em todas as praças. A combinação da recente desvalorização do real somada à alta do prêmio spot em dólar resulta em valores maiores. Além disso, a elevação para 11% de biodiesel na mistura a partir de 1º de setembro intensifica o esmagamento interno uma vez que esse óleo tem na soja sua principal fonte. O mercado interno se manterá aquecido até o final do ano enquanto a exportação cai. Até agosto, o total exportado foi de 60,4 milhões de toneladas seguindo abaixo de 2018, mostrando queda de 6% no acumulado do ano. A oferta é menor que em 2018 devido à quebra de safra (MBAgro)

Segundo o MBAGro, o preço do milho e da soja é positivo para o produtor destes grãos, mas os insumos começaram a refletir a recente desvalorização do Real, em especial os fertilizantes, no caso do milho, elevando a relação de troca. Há outro fator que pode impactar a tomada de crédito e afetar a safra nova. Ainda, segundo a mesma consultoria, é sabido que o crédito privado – seja via trading e empresas de insumos ou bancos particulares – ganhou importância expressiva no financiamento da agricultura enquanto o crédito oficial foi reduzido nas últimas safras.

Esta dificuldade de tomada de crédito pode determinar uma maior venda dos grãos armazenados no mercado interno para que o produtor se capitalize para a próxima safra; este aumento da oferta pode conter uma maior subida do preço dos grãos nos próximos meses.

Segundo Marcelo Lopes, presidente da ABCS, “é preciso olhar com mais atenção para o mercado interno que ainda representa mais de 80% do consumo de nossa carne e, pelo ainda relativo baixo consumo per capita/ano, tem grande potencial de crescimento”.

O presidente destacou que a ABCS tem desenvolvido iniciativas que visam transmitir a diversos públicos dentro da cadeia de suínos informações especializadas sobre a produção da carne suína, segurança alimentar, bioseguridade, além de levar as vantagens da proteína, como sabor, saudabilidade e versatilidade, com o objetivo de aumentar o seu consumo.

“A primeira é a Semana Nacional da Carne Suína, que acontece desde 26 de setembro e vai até 13 de outubro, com foco no varejo e a segunda iniciativa refere-se à biosseguridade do plantel suíno com os workshops de doenças virais que estão acontecendo nas principais regiões produtoras do Brasil, com foco na prevenção da entrada de doenças que possam pôr em risco o privilegiado status sanitário brasileiro, reconhecido internacionalmente. É dever de cada produtor apoiar estas iniciativas na sua região, divulgando em suas redes sociais e mobilizando os profissionais do setor”.

Fonte: ABCS