O Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD), ferramenta essencial de controle dentro do sistema produtivo, vem enfrentando dificuldades, especialmente pela resistência de muitas espécies consideradas inimigas do sistema produtivo a diversos ativos herbicidas. Entre os motivos da preocupação de quem acompanha a problemática, estão as perdas ocasionadas pela matocompetição, incluindo a competição por elementos essenciais como água, luz, nutrientes e espaço físico. Em seu nome próprio – Planta Daninha – já se refere ao principal motivo: causa danos que refletem no bolso do agricultor. Nas lavouras de trigo, a aveia e o azevém podem ser responsáveis por até 50% de perdas na produtividade, segundo dados da Fundação ABC. No Show Rural Coopavel, uma tecnologia inédita para a cultura do trigo no Brasil será apresentada comercialmente, para auxiliar os triticultores a controlar essas infestações. TBIO Capricho CL é a primeira cultivar com a tecnologia Clearfield® no país, resultado de uma parceria entre a Biotrigo, desenvolvedora da plataforma genética e a BASF, detentora da tecnologia.

A solução que é resultado de uma parceria entre a Biotrigo Genética e a BASF, foi criada com o objetivo de resolver o problema de resistência de algumas espécies de plantas daninhas aos herbicidas inibidores da ACCase ou da ALS. Segundo o doutor em fitotecnia e professor na Universidade Estadual de Londrina (UEL), Giliardi Dalazen, a tecnologia já é utilizada em países produtores de trigo, como Canadá e Austrália. No Brasil, tem excelentes resultados na cultura do arroz. “Essa tecnologia auxiliará o produtor no manejo de algumas plantas daninhas importantes no trigo, como azevém, aveia e nabiça. No caso do azevém – principal planta daninha da cultura – o maior benefício é realizar o controle de biótipos de azevém resistentes ao glifosato, aos inibidores da ACCase (graminicidas) e inibidores da ALS”, destaca.

Resultado do melhoramento genético

O desenvolvimento dessa nova cultivar aconteceu na Biotrigo Genética através de técnicas de melhoramento genético convencionais. André Cunha Rosa, melhorista e diretor da Biotrigo Genética, explica que o processo envolveu o cruzamento de um genótipo com o gene CL com outros genótipos de interesse. “Não se trata de um evento de transgenia, mas sim de uma mutação induzida no gene ALS, que proporciona seletividade ao herbicida imazamoxi nessas cultivares”, comenta.

Após esse cruzamento, foram realizadas avaliações a campo e em laboratórios para selecionar as características importantes para a cultura do trigo, como rendimento, qualidade industrial e resistência às doenças. “Chegamos ao desenvolvimento do primeiro trigo CL depois de mais de 10 anos de pesquisa e, além de ter tolerância aos herbicidas imizadolinonas (IMI), mais precisamente ao ingrediente ativo imazamoxi, essa cultivar também possui características agronômicas importantes, como o bom nível de resistência à Giberela, à Mosaico e à Bacteriose”, relata. A cultivar é classificada como trigo Pão/Melhorador e apresenta excelente performance de panificação, tem ciclo médio/tardio e porte médio. Recomendado nas regiões RS1, RS2, SC1, SC2, PR1, PR2 e para as regiões de maior altitude nas regiões PR3, SP2. TBIO Capricho CL está disponível para a multiplicação de sementes na safra 2020.

Sistema Clearfield®

No Brasil, o sistema Clearfield® já é utilizado há mais de uma década no arroz. No trigo, chega aos produtores como uma ferramenta importantíssima para o controle efetivo das plantas daninhas e entregar uma lavoura limpa para a soja que vem depois. Segundo o gerente de Marketing de Arroz e Trigo da BASF, Vitor Bernardes, o TBIO Capricho é o primeiro trigo brasileiro tolerante ao herbicida pós-emergente Raptor® 70 DG.  “O objetivo de trazer essa tecnologia ao mercado brasileiro é dar condições ao triticultor de fazer um controle efetivo das plantas daninhas, um dos grandes desafios do cultivo. Com isso, contribuiremos com a produtividade, qualidade de grãos e com a rentabilidade do agricultor no sistema produtivo soja – trigo”, comenta.

Testes

Para o gerente técnico de pesquisa da Fundação ABC, Luis Henrique Penckowski, e a pesquisadora do setor de herbologia da instituição, Eliana Fernandes Borsato, a tecnologia permite utilizar de forma seletiva o herbicida Raptor® 70 DG, além de controlar com eficácia os biótipos de azevém resistente ao glifosato e/ou inibidores da ALS. “A dificuldade no controle de azevém com resistência ao herbicida glifosato estava inviabilizando a utilização da cultura como parte do sistema de rotação. O trigo CL e a utilização de Raptor® 70 DG na pós-emergência do trigo se mostraram eficientes nos testes viabilizando a cultura porque permite a aplicação seletiva de herbicidas do grupo das imidazolinonas”, comentaram.

Planejamento do uso da tecnologia

A principal recomendação é planejar o uso da tecnologia na propriedade e rotacionar com outras cultivares convencionais. Giliardi faz recomendações a respeito do uso da tecnologia. “É importante que essa cultivar seja introduzida num cronograma de rotação de cultivares, utilizando-a em 25 a 33% da área cultivada com trigo a cada ano, sem repeti-la na mesma área no ano seguinte. Assim, se dificultará a seleção de biótipos de plantas daninhas resistentes ao herbicida utilizado, prolongando a vida útil da tecnologia”, alerta o professor.

Sementes certificadas

Fernando Michel Wagner, gerente comercial para a América Latina (Latam) da Biotrigo Genética explica que o uso de sementes certificadas é peça chave para o sucesso do uso da tecnologia. “A utilização de sementes piratas dissemina invasoras e contamina as lavouras com plantas daninhas, inclusive resistentes a herbicidas. Para que a pesquisa siga trazendo ferramentas como essa aos agricultores, é importante que este elo da corrente seja mantido pois empresas privadas como a Biotrigo originam recursos para a pesquisa através desta fonte”, orienta. O gerente destaca que outras cultivares não são resistentes ao herbicida, sendo de suma importância que ao adquirir o trigo Clearfield® o agricultor tenha a garantia da origem utilizando o herbicida recomendado.

Fonte: Assessoria de Imprensa