O uso de enzimas capazes de catabolizar polipeptídeos tem sido empregado na dieta de suínos por muitos anos, como parte de coquetéis enzimáticos, acompanhado por xilanases, celulases, amilase e β-glucanase (YIN et al. 2004; JI et al., 2008; JO et al. 2012), porém nas pesquisas mais recentes, vários estudos têm demonstrado os efeitos positivos e mensurado o potencial do uso isolado da protease na alimentação de suínos.

As proteases, também chamadas de enzimas peptidases ou proteolíticas, são enzimas capazes de catalisar a hidrólise de proteínas e polipeptídeos em compostos mais simples. O uso de proteases exógenas em dietas de suínos pode melhorar a digestibilidade da proteína dietética e o desempenho, de modo geral (UPADHAYA et al., 2016; TACTACAN et al., 2016). Além disso, as proteases exógenas podem ser uma alternativa eficiente, quando se usa ingredientes com proteínas de baixa qualidade, por melhorarem seus valores nutricionais, e podem degradar fatores antinutricionais de constituição proteica (WANG et al., 2008). Outro benefício está associado ao efeito da protease sobre o estímulo do crescimento intestinal e maturação do trato gastrointestinal em animais jovens, sendo essa maturação um efeito direto da enzima, mas também indireto, pela alteração na microbiota (PRYKHODKO et al., 2015).

Figura 1. Efeito da protease sobre o peso de leitões (Adaptado de Tactacan et al., 2016)

Em relação à saúde intestinal dos suínos, a protease pode auxiliar na redução da incidência de diarreia (ZHANG et al., 2014), principalmente de leitões recém-desmamados, que apresentam digestão deficiente dos ingredientes que compõem a ração. A deficiência na digestão está relacionada à baixa produção de ácido clorídrico no estômago, e a produção insuficiente de enzimas digestivas (SOARES, 2004).

A diarreia causada devido ao alimento ingerido, geralmente ocorre no desmame dos leitões, pois o leite, antes a principal fonte de alimento enquanto lactentes, deixa de ser fornecido aos leitões, sendo sua fonte de nutrientes alterada para dietas à base de milho e farelo de soja, exigindo do animal a digestão de compostos diferentes daqueles que compõem o leite, podendo levar à diarreia no período em que estes leitões estão se adaptando a nova dieta. Essa condição leva ao comprometimento do desempenho do animal, impossibilitando que ele expresse seu máximo potencial genético, além de estar intimamente relacionado ao aumento da mortalidade na creche (FAIRBROTHER et al., 2005). É comprovado que o uso de enzimas exógenas pode reduzir a incidência de diarreia (HEO et al., 2013). Park et al. (2020) observaram em seu estudo que a adição de protease na dieta de leitões reduz a incidência de diarreia. Os autores atribuíram este efeito às seguintes observações: melhora no desenvolvimento intestinal; aumento de atividade das enzimas digestivas; e melhor digestibilidade dos nutrientes presentes na dieta.

Figura 2. Efeito da protease sobre a incidência de diarreia (Adaptado de Park et al., 2020)

Outro estudo, conduzido por Nery et al. (2000) mostrou que a adição de 0,025% de protease em dietas de leitões, à base de milho e farelo de soja, com média de 35 dias de idade, influencia positivamente na conversão alimentar, melhorando em 6% esse parâmetro em comparação à mesma dieta sem a inclusão da enzima. Eles atribuíram essa melhora ao melhor aproveitamento da proteína na formação tecidual dos leitões que foram suplementados pela protease.

Outro estudo conduzido por Tactacan et al. (2016), em que os autores avaliaram a digestibilidade e desempenho de leitões desmamados aos 28 dias de idade, com peso médio de 6,42±0,12 kg, suplementados com protease até os 70 dias de idade, observou-se que o uso da protease melhorou a digestibilidade aparente total da matéria seca em 3,45% em relação ao controle. Além disso, os animais chegaram aos 70 dias de idade com peso corporal 1,29kg superior. Isso demonstra a potencial melhoria que a adição de proteases, quando bem administrada, pode trazer para a granja.

Min et al. (2019) também relatou os efeitos positivos na utilização de proteases. Estes autores avaliaram o desempenho zootécnico, componentes sanguíneos e características de carcaça de suínos em crescimento e terminação. Foram avaliadas duas dietas à base de milho e farelo de soja, uma dieta controle e outra com a adição de 0,01% de protease. Nesse experimento foi observado uma melhora no ganho médio diário de peso (910,96 vs. 866,30g), além de melhora na eficiência alimentar (0,363 vs. 0,345g), mas sem alterações nos parâmetros sanguíneos, ou carcaça.

Observando os relatos da literatura, as proteases contribuem não apenas para melhorar a digestibilidade e desempenho dos suínos, mas seu uso também promove efeito positivo no fator ambiental, reduzindo a excreção de nitrogênio nas fezes dos animais, por consequência da melhor digestibilidade das fontes proteicas das dietas (TACTACAN et. al, 2016).

De forma geral, os melhores resultados são encontrados quando se utiliza 200ppm de inclusão de protease (ZUO et al., 2015; SILVA, 2013). Porém, considerando as especificidades de cada protease comercializada, há uma variação no que se refere ao tipo e concentração da protease, ou seja, a recomendação da inclusão da enzima deve ser seguida conforme a recomendação do nutricionista que acompanha sua granja.

Fonte: Agroceres Multimix