O dólar fechou em alta na terça-feira (9), com o mercado mostrando receios de mais despesas públicas sem contrapartidas fiscais, o que levou o real mais uma vez ao pior desempenho no mundo e o Banco Central a intervir com venda de 1 bilhão de dólares no mercado de derivativos.

O real não apenas liderou as perdas nos mercados de câmbio como foi apenas uma das três moedas dentre 33 pares do dólar a recuar. Peso colombiano (-0,15%) e peso argentino (-0,11%) também caíam no dia em que o índice do dólar recuava 0,55%.

O mercado seguiu a pressionar o câmbio diante de temores fiscais, o que explicou a tomada de fôlego da moeda na véspera, quando o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse que não se pode vincular um novo auxílio emergencial a PECs que poderiam compensar aumento de gastos.

Agentes financeiros têm refeito cálculos com a possibilidade de volta do auxílio, mas nos novos cenários consideram a aprovação de medidas que compensem o impacto fiscal. Entre as mais citadas está a PEC Emergencial, que estabelece gatilhos para conter despesas públicas.

Falando sobre a política de reajuste de preços da Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro disse que, conforme conversas com o presidente da Petrobras, o ideal seria o dólar baixar.

“Avalio que a depreciação cambial recente tinha fundamento, pois decorreu principalmente da pior percepção fiscal, amplificada pelo juro real muito fora do lugar. Assim, vender dólares nesse cenário contém um pouco a piora da moeda, mas vai ser ineficaz se o quadro fiscal piorar”, disse Sergio Goldenstein, consultor independente e estrategista na Omninvest Independent Insights e ex-chefe do Departamento de Operações de Mercado Aberto do Banco Central.

O dólar spot fechou esta terça-feira com ganho de 0,19%, a 5,3827 reais. Na máxima, a moeda foi a 5,4483 reais (+1,41%), antes de, na mínima, descer a 5,3546 reais (-0,33%).

O pico do dia foi alcançado por volta de 13h20, e a cotação manteve-se perto do topo até 14h11, quando o BC anunciou o primeiro leilão de swap cambial, com oferta de até 20 mil contratos (1 bilhão de dólares). Nessa operação, foram vendidos 14.300 contratos.

O BC, então, anunciou às 14h57 a segunda oferta do dia, disponibilizando os demais 5.700 contratos, que posteriormente foram colocados integralmente no mercado. O BC não fazia oferta líquida de swaps cambiais tradicionais desde 11 de janeiro, quando leiloou 10 mil contratos (500 milhões de dólares).

O swap cambial tradicional é um derivativo que estabelece trocas de rentabilidade. Quem vende os contratos (o BC) troca a variação da taxa de câmbio mais cupom cambial pela variação dos juros. Quem os compra –no caso, o mercado– fica posicionado na variação cambial, o que proporciona hedge a riscos de desvalorização do real.

O primeiro leilão de swap desta terça, com lote de 20 mil papéis, foi o maior desde 14 de maio do ano passado, quando o BC disponibilizou a mesma quantia de contratos, num momento em que o mercado ainda tentava se estabilizar após o choque em março decorrente da pandemia.

Considerando a colocação diária, o montante de 1 bilhão de dólares desta terça é o maior desde 12 de agosto, quando, no somatório de dois leilões de swap, a autoridade monetária também colocou 1 bilhão de dólares no mercado.

“(Os leilões) parecem atender a disfuncionalidade no mercado futuro, que chegou a abrir (dólar subir) bem mais que o spot, o que pode afetar o cupom (cambial)”, disse o profissional de um banco estrangeiro. O cupom cambial funciona como uma taxa de juros em dólar e uma forte alta sua costuma ser associada a estresses nas condições de liquidez do mercado de câmbio.

“Como os bancos não estão vendendo dólar porque estão cheios de posições compradas (em real) do overhedge e (como) houve uma massiva compra (de dólar) pelo investidor estrangeiro semana passada, o BC achou por bem intervir”, acrescentou.

Além de riscos fiscais, o IPCA de janeiro abaixo do esperado ajudou a estimular compras de dólar mais cedo, uma vez que amparou apostas de que o Copom pode não subir os juros no curto prazo.

Em evento virtual nesta terça, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse entender a ansiedade do mercado com dados recentes de inflação, mas frisou que a política monetária precisa mirar o longo prazo e que muitos componentes da inflação são temporários.

Campos Neto voltou a alertar contra a adoção, pelo governo, de medidas de estímulo à atividade que gerem aumento líquido de despesas, ressaltando que um movimento nesse sentido poderia ter implicações para a política monetária.

Fonte: Reuters