Duas medidas visando a redução do consumo de açúcar – a reformulação de alimentos industrializados e a informação nutricional na parte frontal dos rótulos – foram discutidas no Workshop “Estratégias de redução do consumo de açúcar”, no qual foram apresentados resultados de estudos desenvolvidos pela Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro, RJ), em projeto que teve apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). O Workshop foi realizado no dia 20, no auditório da Embrapa Solos, e contou com a participação de pesquisadores, representantes de órgão de defesa do consumidor, Ministério da Saúde e Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados.

Quanto às estratégias focadas no projeto, a pesquisadora da Embrapa, Rosires Deliza, explica que a reformulação se baseia na redução do açúcar de produtos industrializados. Já a informação no rótulo inclui advertências sobre a quantidade de açúcar presente nos produtos. Vários estudos realizados na Embrapa Agroindústria de Alimentos, com produtos como achocolatados e sucos, tanto com crianças quanto com adultos, mostraram que as crianças têm menor percepção em relação à redução do açúcar. “Como o mesmo suco pode ser consumido por adultos e crianças, através dos estudos, foi verificado que a retirada gradual de quantidades de açúcar não é sensorialmente percebida por nenhuma faixa etária”.

A apresentação da professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Patrícia Jaime, mostrou o padrão do consumo de açúcar na população brasileira a partir de dados epidemiológicos, estudos populacionais e as implicações do consumo excessivo para a saúde. “Os estudos mostram que o brasileiro está consumindo muito açúcar e esse consumo excessivo está associado a um conjunto de doenças, em especial o sobrepeso, ou obesidade, que tem um impacto grande no perfil de adoecimento, inclusive de mortalidade da população brasileira”.

O pesquisador da Universidad de La República, no Uruguai, Gastón Ares, explicou que a reformulação dos alimentos por parte das indústrias possibilitará que as pessoas modifiquem suas preferências e se acostumem a consumir alimentos menos doces. “Sobre o rótulo, hoje é praticamente impossível identificar quais alimentos têm grande quantidade de açúcar porque essa informação não é obrigatória. Mas há muitas maneiras de incluir essa informação de forma bem clara ao consumidor como, por exemplo, uma identificação na embalagem sobre a alta quantidade de açúcar presente no produto”.

Políticas públicas mais efetivas para a redução do consumo de açúcar são apontadas como essenciais pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC). “Um grande desafio é conseguir aumentar o preço das bebidas açucaradas porque contribuem muito para esse consumo excessivo de açúcar. Hoje no Brasil, existe subsídio para empresas que produzem essas bebidas, ou seja, elas pagam pouquíssimo imposto e nós sabemos que o ônus disso à saúde pública é muito maior do que o que elas contribuem de fato para os cofres públicos” disse, em sua apresentação, Ana Paula Bortoletto, representante do Instituto.

Ela acrescentou que é preciso ter escolas que estimulem o consumo de alimentos com menos açúcar e que restrinjam o acesso aos alimentos açucarados. “Não há necessidade de expor crianças a uma quantidade tão grande desses produtos. Elas podem muito bem estar em um ambiente escolar onde elas possam ter a oferta de alimentos saudáveis. Um dos nossos grandes entraves, no momento, é reduzir a interferência das indústrias nas políticas públicas mais efetivas para as mudanças no Brasil”.

Entre as ações do Ministério da Saúde visando a redução do consumo de açúcar pelos brasileiros, o coordenador substituto do Setor de Alimentação e Nutrição, Eduardo Nilson, citou o Guia Alimentar para a População Brasileira, que contém mensagem específica sobre a redução de ingredientes culinários, que são sal, açúcar e óleo. “Em paralelo, o Programa Nacional de Alimentação Escolar trata do perfil dos alimentos e aborda o uso reduzido de açúcar; a rotulagem nutricional frontal dos alimentos industrializados, que também inclui a redução do açúcar, e a discussão de taxação de bebidas industrializadas adoçadas que são as principais fontes de açúcar em alimentos industrializados”.

Workshop

O Workshop teve como público-alvo: profissionais da indústria de alimentos e bebidas, nutrição e saúde pública, órgãos de governo envolvidos coma alimentação e regulamentação, alunos de pós-graduação em ciência e tecnologia de alimentos. O projeto que resultou nas discussões, conta com a participação de alunos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Fonte: Embrapa Agroindústria de Alimentos