Segundo Ministério Público do Trabalho do Estado, vários inquéritos e fiscalizações estão sendo realizados, e fechamento de plantas não depende apenas de números

De acordo com boletim epidemiológico do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) do Rio Grande do Sul, publicado na quarta-feira (28), do dia 20 de março até o dia 27 de abril, nove frigoríficos registraram surto da doença. O relatório aponta que ao todo, 16.345 pessoas foram expostas, 1.570 apresentaram sintomas de síndrome gripal, e 124 casos de Covid-19 foram confirmados. Na última sexta-feira (24) uma planta processadora de aves da JBS em Passo Fundo teve as atividades suspensas temporariamente devido a contaminações entre funcionários.

Segundo Valdecir Folador, presidente da Associação de Criadores de suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), os elos da cadeia produtiva já estão em alerta para a situação, mesmo ressaltando que as plantas estejam tomando todas as medidas impostas pelas autoridades em saúde para prevenção e contenção.

“Todos estão apreensivos, era um temor que o setor tinha, observando o que está acontecendo nos Estados Unidos”, disse.

De acordo com ele, se houver paralisações pontuais, em plantas menores, é possível redirecionar os esforços para outras unidades. Mas em caso de suspender as atividades em uma planta maior, outras processadoras talvez não tenham a capacidade de absorver.

“Sem dúvida, paralisações podem reduzir a oferta de produto, mas um cenário de escassez de alimento ocorreria somente se houvesse uma suspensão mais generalizada nas plantas”.

Ele explica que os estoques nas agroindústrias não são gigantescos, durariam para uma semana, e um estendimento nas paralisações poderia prejudicar não só o mercado interno, mas as exportações, que seguem a todo vapor.

O diretor da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, explica que o vírus vem de fora para dentro das plantas, e que não há como controlar 24 horas por dia o cotidiano dos funcionários. Entretanto, ele ressalta que o setor está tomando todas as providências necessárias para evitar a contaminação dos funcionários.

“Se descarta a possibilidade de um fechamento total, pontuais sim, e estão acontecendo. Não há negligência no setor, e neste momento, não deve haver escassez de produto, mas uma paralisação pode gerar problemas de logística, operacional e prejuízos econômicos para as enmpresas”.

Para ele, a interdição de plantas frigoríficas precisa ser algo “muito bem pensado”, e que há a convicção de que os procedimentos e a vida vêm em primeiro lugar, mas é preciso observar o cenário macro para evitar que problemas maiores surjam.

A procuradora Priscila Dibi Schvarcz , gerente nacional adjunta do Projeto do Ministério Público do Trabalho (MPT) de Adequação das Condições de Trabalho nos Frigoríficos, afirma que existem várias investigações em andamento, inquéritos civis instaurados, e fiscalizações acontecendo concomitantemente em diversas plantas.

“Para ter uma interdição, é preciso que haja uma situação de grave e iminente risco, não é apenas número que a gente analisa. É toda uma situação de medidas aptas a efetivamente impedirem a transmissão ou o aumento delas na unidade. Precisa ter um embasamento técnico, com inspeção, análise de documentos, protocolos e fluxos dentro das empresas. Por enquanto, não há como responder se haverá mais fechamentos, mas estas situações estão todas sendo investigadas”, disse ela.

RELATÓRIO MOSTRA 124 CASOS CONFIRMADOS E 1 ÓBITO

De acordo com boletim epidemiológico do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) do Rio Grande do Sul, publicado na quarta-feira (28), do dia 20 de março até o dia 27 de abril, foram notificados 11 surtos de síndrome gripal associados a Covid-19, distribuídos em sete municípios. Dentre os locais que registraram surtos, nove são frigoríficos e dois são Instituições de Longa Permanência de Idosos (ILPI).

DADOS CORONAVÍRUS ABRIL DIA 29 RIO GRANDE DO SUL

Em relação aos nove frigoríficos que registraram surto da doença, o relatório aponta que ao todo 16.345 pessoas foram expostas, 1.570 apresentaram sintomas de síndrome gripal, e 124 casos de Covid-19 foram confirmados.

No caso dos óbitos, um foi confirmado, relacionado a um frigorífico na cidade de Garibaldi, e seis mortes secundárias, sendo quatro ligadas a um frigorífico em Passo Fundo, um em Lajeado e um em Tapejara, foram registradas. A Cevs explica que estas mortes são de contactantes domiciliares de casos confirmados de Covid-19.

Conforme explica o boletim, os casos de Covid-19 podem ser confirmados pelos critérios laboratorial ou cliníco-epidemiológico. No processo de investigação de um surto em estabelecimento fechado são testados laboratorialmente os primeiros caos suspeitos, sendo os demais classificados como clínico epidemiológico (com clínica compatível e vínculo temporal de até 7 dias entre as datas de início dos sintomas dos casos confirmados).

Foram testados positivamente para Covid-19, 127 dos 143 casos confirmados entre frigoríficos e instituições de idosos. A maior parte dos casos em confirmação pelo critério clínico epidemiológico ainda não foram notificados no sistema de informação à vigilância estadual.

MEDIDAS TOMADAS PELO ESTADO

Edição extra do Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Sul, publicado na quarta-feira (29), trouxe a Portaria nº 283, da Secretaria da Saúde (SES), que determina a adoção de medidas de prevenção e controle da Covid-19 nas indústrias do Rio Grande do Sul.

As ações contidas no documento foram debatidas com parlamentares, Ministério Público do Trabalho e representantes do setor de carnes e derivados, um dos mais atingidos por surtos da doença, segundo a Secretaria.

O objetivo, de acordo com a secretária da Saúde, Arita Bergmann, é conter possíveis transmissões em espaços industriais em tempo oportuno e evitar que o coronavírus se espalhe nesses ambientes, onde geralmente muitas pessoas trabalham em locais fechados.

Indústrias de qualquer área ou porte deverão se adequar às normas. Cada empresa deve criar seu próprio Plano de Contingência para prevenção, monitoramento e controle do coronavírus, que, de acordo com o texto, “contemple no mínimo adequação estrutural, fluxo e processo de trabalho, identificação de forma sistemática o monitoramento de saúde dos trabalhadores, podendo ser solicitado a qualquer tempo pelos órgãos de fiscalização”.

Fonte: Notícias Agrícolas