As enchentes dos últimos dias que atingiram lavouras da Metade Sul do Rio Grande do Sul, especialmente na Fronteira Oeste e Região da Campanha, devem trazer perdas significativas para a cultura do arroz no Estado. Levantamento da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), indica que a previsão de área colhida deverá ser abaixo de 990 mil hectares do grão. Com uma produtividade projetada após o incidente climático para 7,4 mil quilos por hectare, abaixo da média de 7,93 mil quilos por hectare da safra passada, a produção gaúcha do cereal, que é responsável por 70% do que é colhido no país, deve baixar de 8,2 milhões de toneladas, produção de 2018, para 7,3 milhões de toneladas.


O presidente da Federarroz, Henrique Dornelles, observa que estes números são próximos da safra 2015/2016, quando enchentes também atingiram o Rio Grande do Sul. Afirma que, em todo o Brasil, a colheita ficará na casa das 10,5 milhões de toneladas. Reforça que já em dezembro o clima dava mostras de que traria prejuízos com chuvas na região do Rio Jacuí e baixas temperaturas na nas regiões  de fronteira, inferiores a 15 graus. Só entre 6 e 10 de janeiro, a estação experimental do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), em Uruguaiana (RS), registrou 500 milímetros de volume de chuva.

O dirigente recorda que no período passado as lavouras tiveram índices de radiação solar excepcionais, sobretudo no período entre dezembro e março. Mas, nesta virada do ano, além dos registros de ocorrências de baixa temperatura, nos últimos 30 dias em pelo menos 55% do tempo foi com período de chuva ou menor incidência de luz solar. “Isso era o que os arrozeiros não precisavam, pois o ano tem o maior custo de produção da história, o que agrava a situação de forma muito significativa aliado no mínimo de quatro anos muito ruins seja por preço ou seja por produtividade, o que elevou sobremaneira endividamento do setor produtivo”, destaca.

O fato certamente refletirá no preço ao produtor. De acordo com Dornelles, se forem utilizados modelos passados de produção, suprimento, oferta e demanda, as cotações deverão ser superiores à  safra 2015/2016, com o agravante que o estoque de passagem inicial é muito inferior ao daquela época. Além disso, a expectativa em relação ao dólar é no mínimo 5% superior à média do ano comercial de 2016. “Para isso, a Federarroz recomenda que os produtores usem qualquer ferramenta, sejam judiciais, seja de mecanismos de comercialização de Financiamento para Estocagem de Produtos Agropecuários (Fepm), de recursos próprios ou da venda de ativos como soja e gado para garantir uma venda acima dos R$ 50,00. Aqueles produtores que forem obrigados a vender o arroz com os atuais níveis de preços verão seus pares faturarem  produto R$20,00 superior”, avalia.

No entanto, o presidente da Federarroz reforça que só a partir destes valores mais altos o produtor poderá compensar o aumento nos custos de produção, que beiram os R$ 47,00 como ponto de equilíbrio. Ao consumidor, o recado é de que aproveitem as promoções de arroz nas gôndolas nos próximos dias, pois o produto irá  valorizar devido às condições negativas no campo além das péssimas condições de rentabilidade dos produtores. Entretanto, no longo prazo o atual problema tende a se perpetuar. A desmotivação dos produtores é tamanha que a repercussão de hoje comprometerá inclusive a safra de 2019/2020 com diminuição de área.

A quebra da safra também preocupa o setor industrial. Segundo o diretor-executivo do Sindarroz, Tiago Barata, a preocupação está na pior condição competitiva da indústria gaúcha no abastecimento do mercado doméstico e internacional. “A partir de agora, quem quiser abastecer as suas gôndolas com arroz de melhor qualidade, vai precisar pagar mais”, afirma.

Fonte: Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz)