O Brasil é um país enorme, com uma grande comunidade agrícola. Mas a posição de exportação de lácteos é fraca, resultado de fatores políticos e econômicos.

2018 foi um ano difícil em que o país enfrentou incerteza política, a greve dos caminhoneiros e a crise econômica que afetou o Brasil desde 2014. Isso também teve um efeito sobre a já fraca posição de exportação de lácteos do país.

No entanto, vários especialistas prevêem melhores tempos para o setor lácteo brasileiro. De acordo com um relatório recente sobre o quarto trimestre de 2018, o Q4 2018, Dutch agrofood, descreve que a produção de leite cresceu na Argentina, Brasil e Uruguai no 4º trimestre e que os agricultores iniciam 2019 em uma posição melhor do que a de 2018. A demanda permanecerá moderada na Argentina, mas uma recuperação gradual é esperada para o Brasil, com as importações em recuperação. Os preços para os produtores de leite brasileiros também devem recuperar-se em 2019. Esta é uma boa notícia para o Brasil, conhecido como um forte exportador de grãos, carne bovina, aves e suínos. Já está na hora do setor lácteo também ocupar posições mais privilegiadas.

Muitos produtores, baixa produtividade

De acordo com Paulo do Carmo Mantins, chefe da Embrapa Gado de Leite, uma das questões para os produtores brasileiros de leite é o preço fixo do leite que o governo brasileiro manteve entre os anos 70 e 90. “Duas décadas de preços fixos do leite prejudicaram a maioria dos produtores no desenvolvimento dos seus sistemas de produção. Embora os volumes produzidos não fossem ruins, o Brasil era o quinto principal importador de leite do mundo nos anos 80. No ano passado, as exportações brasileiras de lácteos caíram dois dígitos, chegando a “apenas US$ 58,2 milhões”, explica Carmo Mantins. Ele vê progressos e está convencido de que uma nova geração de produtores de leite está fazendo as coisas de maneira diferente e mais profissional do que as gerações mais velhas de produtores. Hoje, o setor lácteo brasileiro tem mais de 20 milhões de vacas e uma produção de cerca de 36 bilhões de litros. O leite é produzido por 900 mil  produtores de leite, dos quais uma grande proporção é composta por pequenos agricultores. Enquanto grandes empresas e cooperativas adotam novas práticas e tecnologias, uma grande parte dos pequenos produtores não conseguiu acompanhar a evolução. Algumas cooperativas e empresas têm o mesmo nível de produtividade da Nova Zelândia, Europa ou Estados Unidos. Ao mesmo tempo, a produção média de leite por vaca por ano é de cerca de 2.000 litros.

Tornando-se mais competitivo

Carmo Mantins explica que as regiões sul do Brasil (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) e os estados do sudeste (São Paulo e Minas Gerais) abrigam fazendas leiteiras altamente eficientes e que produzem leite de alta qualidade. Estas são as típicas regiões leiteiras brasileiras. “Com estas modernas fazendas e cooperativas, podemos nos tornar concorrentes ao mercado mundial. Ter cooperativas é um pré-requisito importante para ser competitivo, o que também é observado em grandes países produtores de leite, como a Nova Zelândia e os Estados Unidos, onde as cooperativas produzem mais de 80% da produção nacional de leite. Eu vejo um enorme potencial para exportar mais queijos para países como Argentina, Chile, Rússia e Estados Unidos. O governo brasileiro está apoiando fortemente o desenvolvimento tecnológico no setor de lácteos e também foca na qualidade do leite.

As exigentes regras para as exportações de leite devem forçar muitos produtores a deixar a atividade, porque não poder cumpri-las. “Os agricultores que podem intensificar a produção e a qualidade também terão o desafio de otimizar ainda mais os custos de produção para se tornarem mais competitivos”, afirma Marcelo Martins, diretor executivo da Viva Lácteos, organização brasileira do setor lácteo. A Viva Lácteos, em parceria com o governo, está realizando várias iniciativas para ampliar o acesso ao mercado e promover o comércio. “As atividades estão focadas na consolidação de produtos lácteos brasileiros e ganham terreno em um grande número de países.

O enorme potencial está na exportação de laticínios de alta qualidade para países como Arábia Saudita, Bolívia, Colômbia, Chile, Estados Unidos, Paraguai, Peru e Rússia. Também existe potencial para recuperar terreno para produtos de base, como leite em pó, diz Martins. Segundo ele, isso pode ser feito fornecendo assistência técnica a produtores, mais investimentos em infraestrutura e a simplificação de impostos, entre outras coisas. O trabalho da Viva Lacteos já valeu a pena: 12 empresas de laticínios aumentaram significativamente suas exportações. Em 2016, o grupo exportou US$ 13,67 milhões (8% do total). Em 2018, a participação aumentou para 53%, com um valor de US$ 30,84 milhões.

Novos planos do governo

O Brasil está aumentando o nível de sua produção leiteira. Tem recursos naturais e força de trabalho. Voltando ao relatório do Rabobank, os autores escrevem que, em geral, os preços mais altos do leite e os custos de ração ligeiramente menores incentivarão os agricultores a aumentar a produção no primeiro semestre de 2019. O Rabobank espera que a produção de leite nas fazendas aumente ainda mais – já aumentou 1% em 2018. Outro fator importante é a situação política. A perspectiva otimista para a economia em 2019 dependerá em grande parte de como o novo governo estabilizará a crise fiscal neste ano e como os negócios globais e a economia, e portanto o setor de lácteos, serão positivos nos próximos meses.

Fonte: Daniel Azevedo – Dairy Global

Editado pelo Suino.com