* Por Sério Rocha, CEO da AgroTools

Nos últimos meses fomos bombardeados com notícias negativas que têm como alvo a produção do Brasil agro: a mídia chegou a usar “pés sujos” para se referir ao segmento, uma alusão ao desmatamento e outras práticas ilegais – colocando-nos como espectadores passivos dessas ilegalidades. Além disso, os produtos brasileiros sofreram boicote por parte dos supermercados estrangeiros e investidores internacionais levantaram a hipótese de descartar o país para seus aportes financeiros.

Movimentos reivindicatórios em prol do controle do desmatamento também vieram da prata da casa, com empresários e associações nacionais cobrando do Governo medidas de combate aos crimes ambientais. Outra proposta recente foi a divulgação do manifesto de ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central pedindo que o Brasil promova uma retomada ‘verde’ para sair da crise causada pela pandemia do novo coronavírus, com o fim do desmatamento da Amazônia e do Cerrado, a redução das emissões de carbono, o aumento da resiliência climática, com medidas de adaptação e investimento em pesquisa e desenvolvimento.

Sem dúvida, qualquer ação no sentido de reduzir a ocorrência de abusos socioambientais é pauta receptiva e totalmente fundamental. Mas nós, que somos os atores do agronegócio, não podemos ser bombardeados, escutando passivamente, como se não existisse articulação para combater os abusos no território. Temos o dever de responder a esses ataques com nossa agenda positiva.

A iniciativa privada precisa chamar para si essa responsabilidade e dar respostas, ao invés de se esquivar das perguntas. Existem muitos exemplos inspiradores e práticos em relação às questões da sustentabilidade. São ações concretas e é esse o retorno: apontar tudo o que está sendo feito no agronegócio brasileiro e as operações sustentáveis executadas pelo setor financeiro, com instituições preocupadas em jogar o jogo, mas do lado certo.

Sem dúvida é necessário entender a urgência de sanarmos as questões socioambientais, que fazem compradores nacionais e internacionais cogitarem boicote e rupturas, mas também precisamos falar sobre incentivo e premiação. Em meios de valorizar os produtores rurais, que trabalham dentro dos parâmetros da legalidade, facilitando o acesso ao crédito e ao seguro, por exemplo. É imperativo juntar forças e abrir novas frentes, contribuindo para que esse bom produtor seja estimulado a produzir mais e de maneira cada vez mais sustentável, criando um ciclo virtuoso no agronegócio.

Ao oferecer caminhos seguros cria-se uma agenda de ganha-ganha: ganha o produtor, ganham as corporações, ganha o consumidor e ganha o sistema financeiro. Plataformas já estão disponíveis no mercado para proteger as corporações diante das exigências de sustentabilidade. Porque não basta ser sustentável, mas provar de maneira cabal, conferindo transparência aos processos. É a prática da sustentabilidade em escala, que só a mágica da tecnologia consegue produzir, e o melhor: tecnologia 100% brasileira.

Um exemplo é o movimento concreto em curso no segmento de seguros. Companhias internacionais estão acreditando, cada vez mais, no país e olhando com bons olhos para o seguro agro, fundamental no apoio ao crédito rural, vetor de expansão para o agro.

Por mais que se diga o contrário, o Brasil é um catalisador da sustentabilidade no agronegócio. A tecnologia plantada no campo será sempre o caminho da eficiência, da rentabilidade e da estabilidade. Inovadora, esta tecnologia é fator fundamental na evolução do modelo sustentável – o agroverde -, que habilita o país a atender as demandas do mundo.

Estamos sentindo na pele que inovação é inspirada pelas adversidades. Após o coronavírus e a nova visão de mundo que a pandemia nos trouxe, estes cinco “S” – saúde humana, segurança do alimento, sanidade animal, segurança alimentar e sustentabilidade – serão inseparáveis e inerentes às relações comerciais. É uma nova realidade, com novas necessidades, como a crescente busca pela rastreabilidade dos alimentos, que, depois do vírus alojado em uma cadeia alimentar exótica, ficou ainda mais imperativa.

Portanto, vamos entregar ao mercado o que ele precisa porque a mudança de comportamento de consumo está requerendo dinamismo e exigindo um mindset verde em todos os âmbitos das empresas.

Estamos saindo de uma guerra e precisamos provar preparo para proteger os produtos brasileiros – commodities de altíssima qualidade – com inteligência de dados, provando que existe um solo fértil para o agronegócio quando irrigado com tecnologia e bons propósitos.

Foto-Victor-Moriyama