A JBS comunicou na tarde desta sexta-feira (24) que a unidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, de abate de aves, com cerca de 2.600 funcionários, está fechada temporariamente devido a contaminações por coronavírus entre funcionários. Questionada, a JBS não respondeu quantos funcionários testaram positivo para a Covid-19, e informou que vem reforçando as medidas de prevenção entre os funcionários, garantindo acesso a Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), e demais determinações estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Segundo informações do Ministério Público do Trabalho (MPT), o órgão interditou a planta por tempo indeterminado, após a confirmação de casos de funcionários diagnosticados com a doença.

De acordo com nota do MPT do Rio Grande do sul, “durante a fiscalização, iniciada na quarta-feira (22), foram constatados, até a noite de 23/4, 19 casos de trabalhadores confirmados com contaminação de Covid-19 e 2 mortes de parentes dos empregados. Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde, atualizados em 24/4, a empresa possui 20 empregados confirmados, 3 contatos próximos confirmados, 15 empregados suspeitos e 4 contatos próximos suspeitos O Município tem 6 mortes devido à pandemia. Além disso, apenas entre os dias 11 e 22/4, segundo informações da empresa, houve afastamento de 117 trabalhadores com suspeita de coronavírus”.

Conforme os prontuários analisados, segundo a nota do MPT, foi constatado, por exemplo, caso de trabalhador com diversos sintomas característicos de Covid-19 sendo diagnosticado apenas por exame clínico como caso de quadro de resfriado comum, sendo enviado imediatamente de volta ao trabalho com medicamentos apenas para atenuar os sintomas. Em outro exemplo, trabalhadora afastada por 14 dias por suspeita de Covid-19 e seu cônjuge, que inclusive apresentava sintoma compatível com Covid-19 (dor de garganta), não foi afastado e seguiu trabalhando normalmente, inclusive se utilizando do ônibus da empresa para deslocamento.

Além disso, no último sábado (18/4), o MPT ajuizou ação civil pública (ACP) com pedido de tutela de urgência em caráter antecipado. Ainda aguardam decisão do juízo. Antes, foi instaurado inquérito civil (IC), devido a denúncias, comprovadas com fotos e vídeos, de que a JBS não evitava contato interpessoal, nem adotava medidas preventivas adequadas. A observância das regras indicadas pelas autoridades sanitárias permitiriam continuidade da atividade industrial. O MPT recebeu denúncia contra a JBS. Assim, em 23/3, requisitou informações à empresa. Em 27/3, a ré apresentou medidas até então adotadas. Em 31/3, o Projeto Nacional de Adequação das Condições de Trabalho nos Frigoríficos, do MPT elaborou Recomendação específica para o setor. Tal recomendação foi expedida em 1/4, para a Federação das Indústrias da Alimentação, para os Sindicatos locais (no caso em questão, o STIA-Passo Fundo) CERESTs locais e Coordenadoria Regionais de Saúde do Estado, além de ter sido encaminhada para o setor Corporativo da JBS S.A.

Em 9/4, segundo o MPT do Rio Grande do Sul, um empregado da unidade testou positivo para a Covid-19. O MPT expediu, imediatamente, notificações para a vigilância sanitária do Município  e para a empresa. A Vigilância alertou para a existência de outro caso confirmado na unidade. Em 10/4, a ré informou medidas adotas de forma geral e, também, específicas. Em 13/4, o MPT encaminhou minuta de Termo de ajuste de conduta. Em 14/4, a inquirida foi notificada para participar de audiência administrativa a ser realizada em 15/4, quando seriam seriam discutidos os termos do TAC. A JBS informou que não tinha interesse em comparecer à audiência. Às 20h de 15/4, o MPT teve conhecimento de mais dois casos confirmados na unidade.

Em 16/4, segundo o comunicado do MPT, a Vigilância Sanitária detectou aglomeração de funcionários na área de lazer durante a troca de turnos; local de triagem inadequado; incompatibilidade entre número de funcionários e cumprimento do distanciamento; demarcação errônea do distanciamento (1m); falta de comunicação e subnotificação dos casos suspeitos para a vigilância epidemiológica municipal; falta de monitoramento dos funcionários afastados pela empresa e máscaras ineficientes. No mesmo documento, informou registro de surto de síndrome gripal. Diante disso, a Secretaria Municipal de Saúde recomendou suspensão imediata das atividades, no momento em que eram sete casos confirmados de Covid-19, sendo que um em estado gravíssimo; 78 empregados afastados por sintomas gripais. Foram verificadas muitas falhas no distanciamento de pessoas e na adoção de medidas de vigilância ativa aptas a inviabilizar a ocorrência de novas transmissões.

“É importante ressaltar que os pedidos da ação não estão atrelados tão somente ao fato de o ambiente físico da empresa ser o meio de contágio, mas, também, em garantir que, ainda que um trabalhador tenha se contaminado externamente, existam, na empresa, medidas eficazes para garantir que os demais não sejam contaminados, evitando, assim, a propagação do vírus”, informou o MPT em nota.

O QUE DIZ A JBS

Em nota, a JBS refutou as informações do auto de infração e a empresa “está confiante na segurança das medidas adotadas com o objetivo de prevenir o contágio da Covid-19 e proteger cada um dos seus colaboradores”.

A empresa informou que os seus protocolos “atendem em 100% as orientações da Secretaria do Trabalho (Ministério da Economia) para o setor frigorífico. Ao contrário do auto de interdição que extrapola o protocolo da Secretaria do Trabalho, as ações implementadas pela JBS estão totalmente amparadas em laudos e recomendações técnicas dos órgãos de saúde e de especialistas da área médica, incluindo a Consultoria do Hospital Alberto Einstein, contratado pela JBS para apoiar em todas as ações voltadas aos seus colaboradores na área de prevenção e segurança contra a Covid-19, conferindo ainda mais qualidade técnica e segurança aos protocolos implementados pela empresa”, como:  

·         Desinfecção diária e periódica de todas as instalações da empresa; 

·         Medição de temperatura de todos os colaboradores antes de acessarem a unidade;

·         Afastamento das pessoas do grupo de risco;

·         Inclusão de novos EPIs para uso permanente, como introdução de máscaras acrílicas;

·         Obrigatoriedade do uso de máscaras de proteção para 100% dos colaboradores, incluindo a área administrativa;

·         Adoção de medidas de distanciamento social;

·         Vacinação contra gripe H1N1 para todos os colaboradores, entre outras ações.

“A proteção dos colaboradores sempre foi o primeiro objetivo da JBS, desde o início da pandemia da Covid-19. A empresa segue pautada por esse princípio e confia em que as atividades em Passo Fundo serão retomadas brevemente”, finalizou a empresa, em nota.

20 funcionários

Segundo o Ministério Público do Trabalho,  osurto de Covid-19 atingiu 20 empregados na unidade de aves da JBS em Passo Fundo (RS),  marcando a primeira disseminação em grande escala do vírus em um frigorífico no Brasil.

O Ministério Público do Trabalho confirmou que encontrou pelo menos sete casos de coronavírus quando sua investigação começou há alguns dias e disse que a contagem aumentou desde então para 20.

Mais cedo, o portal de notícias UOL citou uma declaração do Conselho Municipal de Saúde da cidade, que dizia haver 78 funcionários da JBS afastados do trabalho por apresentar sintomas de gripe.

O Ministério Publico do Trabalho, que no último sábado ajuizou uma ação civil pública contra a JBS, disse que a empresa não seguiu normas de vigilância sanitária para lidar com o novo coronavírus, o que desencadeou a investigação. A JBS, posteriormente, se recusou a assinar um Termo de Ajuste de Conduta, segundo os procuradores.

O TAC que a JBS se recusou a assinar teria sido semelhante ao firmado entre a processadora Companhia Minuano de Alimentos, também no Rio Grande do Sul, segundo os procuradores.

A Minuano, que tem sede em Lajeado, comunicou o afastamento de 750 funcionários, de um total de 2.051. A empresa registrou 16 casos confirmados de Covid-19, segundo informaram os procuradores no momento da assinatura do TAC.

Fonte: Notícias Agrícolas