A disputa sobre a maior processadora de soja da Argentina continua. A vice-presidente do país, Cristina Kirchner convocou o Senado para uma videoconferência nesta quarta-feira (24), onde irá propor e debater um projeto de lei que permita a criação de uma commissão bicameral – unindo as duas casas do Congresso – para investigar a Vicentin.

O informe da reunião, segundo noticia o portal argentino InfoCampo, se deu por meio de um decreto parlamentar assinado por Kirchner, que tem como objetivo dar andamento na investigação sobre fraudes no Banco Nación.

A comissão seria formada, como explicou o senador Oscar Parrilli, por seis deputados e seis senadores “para investigar ssupostas irregularidades que possam existir na relação de crédito entre o Banco de la Nación Argentina e a empresa Vicentin SAIC, possível fraude e fraude comercial a credores, clientes da firma e/ou empresas de cereais e soja com as quais competiu”. Operações de lavagem de dinheiro ou encobrimento das mesmas também serão investigadas.

FAMÍLIA RETOMA A EMPRESA

Depois de duas semanas de intervenção estatal, a família Vicentin reassumiu o controle da empresa e agora se encontra na incerteza e na insegurança jurídica em que se encontra o caso da processadora. Em entrevista ao jornal argentino Clarín, Alberto Padoan, porta-voz do grupo autorizado a comentar sobre o caso, afirma que a família se vê agora em uma verdadeira encruzilhada.

E assim, critica a solução que o governo vem tentando implementar. Padoan afirma também que a proposta de Osmar Perotti, governador da província de Santa Fé, pode ser ainda pior.

“O plano de Perotti nos levaria a uma expropriação pior do que a anterior, porque eles estão propondo três intervenientes em tempo indeterminado. Um representante da Diretoria de Pessoas Jurídicas disse que solicitamos. Eles estão dando informações confusas e contraditórias e desejam que esses representantes, que o juiz estabeleceu como superintendentes, ajam sem prazo e tenham o poder de fazer uma oferta aos credores no processo de falência”, explicou Padoan ao Clarín.

IMPORTÂNCIA DO COMPLEXO SOJA PARA A ARGENTINA

Desde que o chapa de Alberto Fernández e Cristina Kirchner venceram Maurício Macri nas eleições presidenciais e assumiram a Argentina, o agronegócio já sabia que novas, mas já conhecidas – disputas voltariam a ser travadas entre governo e o setor produtivo.

Assim, momentos como estes podem comprometer ainda mais o campo, já tão fragilizado, e a competitividade da Argentina. O país é hoje o maior processador global de soja e primeiro exportador de farelo e óleo. A receita gerada, portanto, pelo complexo da oleaginosa, é determinante para a economia, também já bastante combalida.

Assim, o que determinará a manutenção dos argentinos ainda fortes no dinâmico e complexo comércio mundial de soja será a competência dos produtores.

“Acho que a Argentina, dificilmente, ficará de fora do jogo. Sofrerá percalços, mas não ficará de fora porque o produtor lá é muito bom, as terras são excelentes em algumas áreas e o volume que produzem não poderá ser substituído tão cedo”, explica Eduardo Lima Porto, diretor da LucrodoAgro. “A dependência deles do ingresso da soja é brutal”, completa.

Porto relembra ainda de artigos já publicados no Notícias Agrícolas já levantando preocupações como estas anos atrás. “Os artigos mostram laramente isso, a tal ponto que antes do Macri ganhar, eu apontei que ele não poderia abrir mão do valor arrecadado nas retenções. Chamei a atenção para o que estava acontecendo com o imposto sobre terras lá e a chance de ocorrer um aumento do ITR aqui. O que vai acontecer agora?”, diz.

Fonte: Notícias Agrícolas