Autor: Haltiane Bárbara Alves da Silva é líder de produção agropecuária no Centro de Pesquisas da Agroceres Multimix
A biosseguridade está diretamente ligada a temas de importância global como bem-estar animal, segurança alimentar e sustentabilidade. Ela também tem papel chave na redução do uso de medicamentos nas granjas, principalmente dos antimicrobianos, exigindo o envolvimento de todos os elos da cadeia para que tenha efetividade.
A intensividade dos sistemas de produção vem tornando ainda mais desafiadora a tarefa de garantir a sanidade dos planteis. Seguir medidas efetivas para manter, ou melhorar a saúde do rebanho, é fundamental para garantir os índices reprodutivos e de crescimento.
Uma maneira de manter a sanidade do plantel é através das monitorias sanitárias por um médico veterinário. Através das monitorias, o profissional pode detectar doenças ainda em sua forma subclínica, que se tratadas adequadamente:
– previnem o surgimento de sinais clínicos severos,
– além de evitar o contágio de todo o rebanho.
Os serviços veterinários nas granjas chegam a representar aproximadamente 80% da demanda na área, sendo que a monitoria clínica está diretamente ligada à detecção de doenças entéricas, reprodutivas e respiratórias (Lippke et al., 2009).
O profissional que se dedica à suinocultura trabalha com a medicina coletiva, já que o suíno é criado em sistemas de grande concentração e completo confinamento. Contudo, sua visão precisa ser ampla e com técnicas diferenciadas da semiologia básica, a chamada medicina veterinária preventiva de população.
A monitoria clínica sanitária objetiva a observação, de forma eficiente e sobre todo o rebanho, visando a identificação de índices de difícil mensuração a fim de diminuir os riscos de erros.
É possível observar e medir índices como:
– tosse,
– espirro,
– diarreia,
– claudicação,
– refugagem e etc.
É importante ressaltar que cada granja deve ter o seu próprio protocolo para o tratamento dos animais doentes, muito embora algumas ações sejam comuns a todos sistemas de produção, como:
– alojar animais isolados dos demais em baias hospital para melhor tratamento e evitar o contágio de outros animais.
– ou ainda, caso o tratamento não tenha progressão clínica, os suínos deverão ser devidamente abatidos por profissionais treinados.
O ideal é manter as monitorias de forma rotineira para que os sintomas sejam detectados precocemente e as doenças não saiam do controle e comprometam a produção, pois pode ser fatal para o rebanho.
O ideal é que a avaliação dos animais seja realizada sempre pela mesma pessoa, com o intuito de padronizar a identificação. Ou, que existam profissionais treinados pelo responsável técnico para fazer as monitorias com base nos mesmos critérios e na mesma metodologia.
O avaliador precisa ser capaz de identificar o comportamento do suíno e diferenciar o normal do anormal em todas as fases de crescimento, de modo que este conhecimento facilite a interpretação dos sinais, podendo indicar com facilidade problemas de ordem sanitária.
A qualidade do ambiente interfere de maneira direta na saúde clínica do plantel e, mediante a monitoria, é possível fazer uma investigação ambiental para identificação de situações que podem se tornar fatais para os suínos.
Algumas perguntas-chaves são de extrema importância na investigação, tais como:
- Como está a qualidade e assiduidade de lavagem das instalações?
- O vazio sanitário está sendo realizado? Como?
- A temperatura do galpão está sendo mensurada? Com que frequência?
- O fluxo de ração está adequado? Como está o consumo real dos animais?
- Como está sendo a limpeza dos comedouros?
- A qualidade da água está sendo monitorada?
- As baias estão superlotadas?
A partir da análise geral das instalações é crucial que essas informações sejam filtradas, possibilitando a geração de planilhas e gráficos para apoiar a tomada de decisão. Então, visando identificar as principais condições de enfermidades de suínos podemos distribuir a monitoria da seguinte forma:
Sistema digestório
Neste sistema são comuns doenças como:
– circovirose,
– rotavirose,
– clostridiose,
– gastroenterites,
– colibasilose,
– salmonelose,
– úlcera,
– diarreia nutricional e etc.
Essas doenças podem provocar sérias alterações no organismo em qualquer fase de crescimento. A principal modificação será observada nas fezes, seja na coloração (normal, hemorrágica, mucóide e melena), ou na sua consistência (normal, cremosa, pastosa e líquida).
O aparecimento de doenças entéricas é comum, mas deve-se observar atentamente a refugagem dos animais e, de forma quantitativa, classificar todo o lote.
A avaliação deve ser realizada sempre no mesmo horário e pode ser realizada em diferentes faixas etárias (creche, recria e terminação). O lote em questão só pode ser considerado com diarreia, quando 20% apresentar tal sintoma, caso contrário deve ser interpretado como casos isolados em observação.
Assim, mediante a apresentação da consistência das fezes em animais acometidos pelo transtorno, podemos classificar:
- Lote sem diarreia;
- Lote com pouca diarreia – sendo possível observar o aparecimento em até três dias na semana;
- Lote com presença significativa de diarreia – sendo possível observar o aparecimento todos os dias da semana.
Sistema respiratório
Deve-se realizar basicamente a contagem de tosse e espirro dos animais presentes no galpão. Trata-se de uma observação simples, mas que pode fazer toda a diferença na saúde do plantel, principalmente quando falamos em diagnóstico precoce de doenças, como rinite atrófica e pneumonia.
A avaliação pode ser realizada nas fases de creche, recria e terminação. A técnica deve ser realizada da seguinte forma:
- Movimentar os animais durante um minuto;
- Aguardar um minuto;
- Realizar a contagem de tosse e espirro de forma paralela;
- Movimentar os animais;
- Realizar a contagem novamente;
- Movimentar os animais;
- Realizar a contagem novamente.
A contagem é realizada três vezes para que possa ser estabelecida a média das contagens de tosse e espirro e, em seguida, aplicadas na seguinte fórmula:
Média das três contagens / Número de animais no Lote x 100
Resultados com constância de espirros abaixo de 10% indicam baixa incidência, já a frequência de tosse menor de 2% é indicativa de que o plantel não apresenta problemas pulmonares, conforme o protocolo proposto por Soncini & Madureira Jr. (1998).
É possível estabelecer uma rotina simples, eficiente e valiosa para manter as condições de saúde do plantel, visando o mercado da carne que está cada vez mais exigente.
Considerações finais
O conhecimento atual do sistema de criação moderno exige um plano de biosseguridade eficiente e profissionais capazes de identificar enfermidades o quanto antes, sendo possível diminuir o uso de antibióticos, melhorar desempenho, reduzir doenças zoonóticas e, principalmente, manter-se no mercado de forma lucrativa.
Autor: Haltiane Bárbara Alves da Silva é líder de produção agropecuária no Centro de Pesquisas da Agroceres Multimix.