Monitoria clínica sanitária no dia a dia em granja de suínos

0
71

Autor: Haltiane Bárbara Alves da Silva é líder de produção agropecuária no Centro de Pesquisas da Agroceres Multimix

A biosseguridade está diretamente ligada a temas de importância global como bem-estar animal, segurança alimentar e sustentabilidade. Ela também tem papel chave na redução do uso de medicamentos nas granjas, principalmente dos antimicrobianos, exigindo o envolvimento de todos os elos da cadeia para que tenha efetividade.

A intensividade dos sistemas de produção vem tornando ainda mais desafiadora a tarefa de garantir a sanidade dos planteis. Seguir medidas efetivas para manter, ou melhorar a saúde do rebanho, é fundamental para garantir os índices reprodutivos e de crescimento.

Uma maneira de manter a sanidade do plantel é através das monitorias sanitárias por um médico veterinário. Através das monitorias, o profissional pode detectar doenças ainda em sua forma subclínica, que se tratadas adequadamente:

– previnem o surgimento de sinais clínicos severos,

– além de evitar o contágio de todo o rebanho.

Os serviços veterinários nas granjas chegam a representar aproximadamente 80% da demanda na área, sendo que a monitoria clínica está diretamente ligada à detecção de doenças entéricas, reprodutivas e respiratórias (Lippke et al., 2009).

O profissional que se dedica à suinocultura trabalha com a medicina coletiva, já que o suíno é criado em sistemas de grande concentração e completo confinamento. Contudo, sua visão precisa ser ampla e com técnicas diferenciadas da semiologia básica, a chamada medicina veterinária preventiva de população.

A monitoria clínica sanitária objetiva a observação, de forma eficiente e sobre todo o rebanho, visando a identificação de índices de difícil mensuração a fim de diminuir os riscos de erros.

É possível observar e medir índices como:

– tosse,

– espirro,

– diarreia,

– claudicação,

– refugagem e etc.

É importante ressaltar que cada granja deve ter o seu próprio protocolo para o tratamento dos animais doentes, muito embora algumas ações sejam comuns a todos sistemas de produção, como:

– alojar animais isolados dos demais em baias hospital para melhor tratamento e evitar o contágio de outros animais.

– ou ainda, caso o tratamento não tenha progressão clínica, os suínos deverão ser devidamente abatidos por profissionais treinados.

O ideal é manter as monitorias de forma rotineira para que os sintomas sejam detectados precocemente e as doenças não saiam do controle e comprometam a produção, pois pode ser fatal para o rebanho.

O ideal é que a avaliação dos animais seja realizada sempre pela mesma pessoa, com o intuito de padronizar a identificação. Ou, que existam profissionais treinados pelo responsável técnico para fazer as monitorias com base nos mesmos critérios e na mesma metodologia.

O avaliador precisa ser capaz de identificar o comportamento do suíno e diferenciar o normal do anormal em todas as fases de crescimento, de modo que este conhecimento facilite a interpretação dos sinais, podendo indicar com facilidade problemas de ordem sanitária.

A qualidade do ambiente interfere de maneira direta na saúde clínica do plantel e, mediante a monitoria, é possível fazer uma investigação ambiental para identificação de situações que podem se tornar fatais para os suínos.

Algumas perguntas-chaves são de extrema importância na investigação, tais como:

  1. Como está a qualidade e assiduidade de lavagem das instalações?
  2. O vazio sanitário está sendo realizado? Como?
  3. A temperatura do galpão está sendo mensurada? Com que frequência?
  4. O fluxo de ração está adequado? Como está o consumo real dos animais?
  5. Como está sendo a limpeza dos comedouros?
  6. A qualidade da água está sendo monitorada?
  7. As baias estão superlotadas?

A partir da análise geral das instalações é crucial que essas informações sejam filtradas, possibilitando a geração de planilhas e gráficos para apoiar a tomada de decisão. Então, visando identificar as principais condições de enfermidades de suínos podemos distribuir a monitoria da seguinte forma:

Sistema digestório

Neste sistema são comuns doenças como:

– circovirose,

– rotavirose,

– clostridiose,

– gastroenterites,

– colibasilose,

– salmonelose,

– úlcera,

– diarreia nutricional e etc.

Essas doenças podem provocar sérias alterações no organismo em qualquer fase de crescimento. A principal modificação será observada nas fezes, seja na coloração (normal, hemorrágica, mucóide e melena), ou na sua consistência (normal, cremosa, pastosa e líquida).

O aparecimento de doenças entéricas é comum, mas deve-se observar atentamente a refugagem dos animais e, de forma quantitativa, classificar todo o lote.

A avaliação deve ser realizada sempre no mesmo horário e pode ser realizada em diferentes faixas etárias (creche, recria e terminação). O lote em questão só pode ser considerado com diarreia, quando 20% apresentar tal sintoma, caso contrário deve ser interpretado como casos isolados em observação.

Assim, mediante a apresentação da consistência das fezes em animais acometidos pelo transtorno, podemos classificar:

  1. Lote sem diarreia;
  2. Lote com pouca diarreia – sendo possível observar o aparecimento em até três dias na semana;
  3. Lote com presença significativa de diarreia – sendo possível observar o aparecimento todos os dias da semana.
Fonte: Adaptado de Pedersen (2014)

Sistema respiratório

Deve-se realizar basicamente a contagem de tosse e espirro dos animais presentes no galpão. Trata-se de uma observação simples, mas que pode fazer toda a diferença na saúde do plantel, principalmente quando falamos em diagnóstico precoce de doenças, como rinite atrófica e pneumonia.

A avaliação pode ser realizada nas fases de creche, recria e terminação. A técnica deve ser realizada da seguinte forma:

  1. Movimentar os animais durante um minuto;
  2. Aguardar um minuto;
  3. Realizar a contagem de tosse e espirro de forma paralela;
  4. Movimentar os animais;
  5. Realizar a contagem novamente;
  6. Movimentar os animais;
  7. Realizar a contagem novamente.

A contagem é realizada três vezes para que possa ser estabelecida a média das contagens de tosse e espirro e, em seguida, aplicadas na seguinte fórmula:

Média das três contagens / Número de animais no Lote x 100

Resultados com constância de espirros abaixo de 10% indicam baixa incidência, já a frequência de tosse menor de 2% é indicativa de que o plantel não apresenta problemas pulmonares, conforme o protocolo proposto por Soncini & Madureira Jr. (1998).

É possível estabelecer uma rotina simples, eficiente e valiosa para manter as condições de saúde do plantel, visando o mercado da carne que está cada vez mais exigente.

Considerações finais            

O conhecimento atual do sistema de criação moderno exige um plano de biosseguridade eficiente e profissionais capazes de identificar enfermidades o quanto antes, sendo possível diminuir o uso de antibióticos, melhorar desempenho, reduzir doenças zoonóticas e, principalmente, manter-se no mercado de forma lucrativa.

Autor: Haltiane Bárbara Alves da Silva é líder de produção agropecuária no Centro de Pesquisas da Agroceres Multimix.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui