Utilização de DDG de milho na suinocultura – Uma abordagem prática

0
108

Henrique Grecco – Consultor de serviços técnicos de suínos na Agroceres Multimix

A busca por ingredientes alternativos na alimentação dos suínos é constante, visando redução dos custos das dietas tendo em vista que atualmente a alimentação representa cerca de 80% dos custos de produção. Há alguns anos o DDG (sigla em inglês para grãos secos e destilados) e o DDGS (grão secos destilados com solúveis) vêm ganhando espaço e se mostrando promissores, com bons resultados a campo.

Esses ingredientes são coprodutos obtidos a partir da produção de etanol de milho, mais especificamente após a fermentação do amido de milho pelas enzimas e leveduras utilizadas para produzir o etanol e o dióxido de carbono (Figura 1).

Características do DDG e DDGS

Resumidamente, o DDG pode ser obtido de duas formas:

  1. com a incorporação dos solúveis (DDGS) e
  2. com a retirada da fibra (DDG), tendo maior concentração de amido e proteína, sendo esse segundo mais indicado para suínos.

Segundo Corassa (2018), esses coprodutos apresentam concentração três a quatro vezes maior que o milho de proteína, lipídeo e fibra.

Em termos práticos de produção, para cada tonelada de milho processado, são produzidos 420 litros de etanol e 300 kg de DDG ou DDGS, sendo que a produção no Brasil deve passar dos dois milhões de toneladas em 2021/22 (UNEM).

O estado do Mato Grosso tem se destacado na produção de etanol de milho e do DDG e DDGS, possuindo quatro grandes unidades produtoras localizadas nos municípios de Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso e Sinop.

Figura 1. Processo do etanol de milho, DDG e DDGS.
Fonte: US Grains Council (2012)

A utilização do DDG na dieta de suínos representa uma boa oportunidade na busca por redução de custos, especialmente nos locais próximos às usinas produtoras, principalmente por ser uma fonte considerável de proteína. Ele pode substituir, em parte, o farelo de soja na dieta dos suínos (no caso mais específico do DDG) e das fêmeas em reprodução (no caso do DDGS), entrando como substituto parcial do milho.

Nos Estados Unidos, o DDG é utilizado desde o ano 2000, sendo mais recente sua utilização no Brasil. Basicamente, existem dois tipos de DDG aplicáveis à nutrição dos suínos:

  1. DDG padrão:

Apresenta menor teor de proteína (23 a 28%), porém maior teor de fibra bruta, sendo mais indicado para porcas na reprodução;

  • DDG de alta proteína ou HP (high protein):

Apresenta teores de 38 a 51% de proteína bruta, sendo mais indicado para as fases de recria e terminação, em substituição ao farelo de soja da dieta.

De acordo com Rosentrater et al. (2019), normalmente, o DDG apresenta média de:

  • 30% de proteína
  • 10% de gordura e
  • 40% de fibra em detergente neutro.

Além do teor de proteína, o DDG apresenta também:

  • alto valor energético (Tabela 1),
  • níveis interessantes de aminoácidos e
  • concentração de fósforo que varia de 0,57 a 0,85% na matéria seca, com disponibilidade de até 68% (FASTINGER; MAHAN, 2006).

Tabela 1. Valores de energia metabolizável do DDGS para suínos

Kcal/kgAnderson et al. (2012)Graham et al. (2014)Corassa et al. (2017)
EM379034713668

Valores Nutricionais

Contudo, atualmente no Brasil, o maior entrave para a utilização do DDG tem sido a grande variação na composição nutricional. É importante ressaltar que os valores nutricionais do ingrediente costumam variar entre fornecedores devido às características da matéria-prima utilizada e das diferenças entre os processos durante a produção do etanol de milho, especificamente no que diz respeito à digestibilidade dos nutrientes, principalmente em relação à lisina.

Esse efeito é menor no DDG que no DDGS, uma vez que a adição dos solúveis aumenta a probabilidade da ocorrência das reações de Mayllard, que diminuem a digestibilidade da lisina (NRC, 2012).

Uma forma prática de analisar a concentração de aminoácidos no DDG é através da sua coloração. Amostras mais claras tendem a apresentar maiores teores de aminoácidos do que amostras de coloração mais escura.

Segundo Urriola e Stein (2014), isso ocorre porque, durante o processo de secagem do DDG, o superaquecimento da massa pode levar à desnaturação proteica, sendo a lisina o aminoácido mais afetado, seguido do triptofano e da metionina.

De forma resumida, há uma correlação direta da intensidade da cor com o teor de aminoácidos.

Micotoxinas

Outro fator de atenção e cuidado na utilização é a concentração de micotoxinas, que pode ser até três vezes maior em relação ao milho (SHURSON et al., 2009) e depende de o grão destinado para a produção do etanol já estar contaminado, uma vez que as micotoxinas não são destruídas durante o processamento.

Como de praxe, é importante que haja uma boa armazenagem desses grãos para evitar a contaminação e/ou proliferação dos fungos.

Segundo a literatura (KHATIBI et al., 2014), as principais micotoxinas encontradas no DDG são:

  • fumonisina e
  • deoxinivalenol (DON).

Por isso, é essencial conhecer o fornecedor e, sempre que possível, realizar as análises bromatológicas em laboratórios homologados, garantindo, assim, a seleção do melhor fornecedor e resultando na compra do melhor ingrediente possível para cada realidade (Tabela 2).

Tabela 2. Compilado de valores médios, máximos e mínimos da composição química do DDG

 MédiaMáximoMínimo
Matéria seca89,4496,6077,80
Proteína bruta31,7455,7015,50
Fibra detergente neutro46,7166,8021,30
Fibra detergente ácido23,7352,8010,80
Extrato etéreo11,9128,701,17
Carboidratos não fibrosos8,5821,212,65
Nutrientes digestíveis totais76,42100,355,80
 Fonte: Adaptado de ESALQLab

DDG e DDGS na Suinocultura

A utilização do DDG e DDGS na suinocultura vem sendo estudada e adotada há alguns anos. Stein (2007) utilizou até 30% de inclusão na dieta de leitões com duas a três semanas pós-desmame e não encontrou impactos negativos sobre o desempenho dos animais. Já Linneen et al. (2008), não observou diferenças em leitões recém desmamados, trabalhando com 10% de inclusão.

De toda forma, é necessário ter cuidado com a utilização de altas inclusões do ingrediente de forma precoce, a fim de evitar perda de desempenho, com redução do ganho de peso diário, como observado por Tran et al. (2012) (Tabela 3).

Para fêmeas em gestação e lactação, as inclusões recomendadas variam de 50% (GENTILINI et al., 2003) a 30% (STEIN & SHURSON, 2009), sem afetar negativamente o desempenho. Segundo Pedersen et al. (2007), o DDG de boa qualidade pode ser utilizado em até 30% da dieta de suínos em recria e terminação, sem alterações no desempenho e características de carcaça e até 50% para porcas em gestação.

Lautert (2016) concluiu que inclusões de até 30% das dietas de suínos em terminação não apresentou prejuízos sobre o desempenho e características de carcaça. O mesmo foi encontrado por Corassa et al. (2021), trabalhando com níveis de 10 a 30% de inclusão do ingrediente.

Porém, deve-se tomar cuidado com inclusões acima das recomendadas, pois devido à maior concentração de gordura em relação ao milho e farelo de soja, tem-se o risco de alterar algumas características da carcaça, principalmente no que diz respeito à rigidez do toucinho.

Tabela 3. Inclusões máximas de DDG segundo autores

Fase de produção% de inclusão máxima
Creche30%
Recria/Terminação30%
Reprodução50%

Como recomendação geral, é importante que o produtor converse com o nutricionista responsável pelas dietas da granja para estudar as melhores possibilidades de inclusão do DDG ou DDGS. Afinal, além das características nutricionais dos produtos, é essencial levar em consideração as fases de produção e o preço dos ingredientes em relação ao milho e ao farelo de soja, para que seja possível trabalhar com redução de custos numa dieta totalmente balanceada para a realidade da granja.

Vale ressaltar – novamente – a importância das análises bromatológicas, a fim de se obter o ingrediente desejado.

Referências bibliográficas

ANDERSON, P. V.; KERR, B. J.; WEBER, T. E.; Ziemer, C. J.;, Shurson, G. C. Determination and prediction of digestible and metabolizable energy from chemicalanalysis of corn co-products fed to finishing pigs. Journal of Animal Science 90: 1242–1254. 2012.

CORASSA,  A.,  LAUTERT,  I.P.A.S,TON,  A.P.S.,KIEFER,C.,  BRITO,  C.O.,  SBARDELLA,  M.& SOUZA,  H.C. (2021). Viability  of  Brazilian  distillers  dried  grains  with solubles for pigs. Semina: Ciências Agrárias, 42(3), 1159-1174.http://dx.doi.org/10.5433/1679-0359.2021v42n3p1159

CORASSA,  A., LAUTERT,  I.  P.  A.  S.,  PINA,  D.  S.,  KIEFER,  C.,  TON,  A.  P.  S., KOMIYAMA,  C. M.,  AMORIM,  A.  B. &  TEIXEIRA,  A.O.  (2017). Nutritional  value  of Brazilian   distillers   dried   grains   with   solubles   for   pigs   as   determined   by   different   methods. Revista   Brasileira   de   Zootecnia,46(9),  740-746. https://doi:10.1590/s1806-92902017000900005

FASTINGER, N. D. & MAHAN, D.C. Determination of the ileal amino acid and energy digestibilities of corn distillers dried grains with solubles using grower-finisher pigs. Journal of Animal Science.

GENTILINI, F. P; DALLANORA A. D; BERNARDINI, M. C.; WENTZ, I.; BORTOLOZZO, F. P. Comportamento de leitoas gestantes submetidas a dietas com baixo e alto nivel de fibra e mantidas em gaiolas ou em baias. Arquivo brasileiro de medicina veterinaria e zootecnia, vol 55, n° 5, 2003.

GRAHAM, A. B.; GOODBAND, R. D.; TOKACH, M. D.; DRITZ S, S.; DEROUCHEY. J. M.; NITIKANCHANA, S.; UPDIKE, J. The effects of low-, medium-, and high-oil distillers dried grains with solubles on growth performance, nutrient digestibility, and fat quality in finishing pigs. Journal of Animal Science 92: 3610–3623, 2014.

KHATIBI, P., MCMASTER, N., MUSSER, R. 2014. Survey of mycotoxins in corn distillers´ dried grains with solubles from seventy-eight etanol plants in twelve states in the US in 2011. Toxins, 6(4), 1155-1168

LAUTERT, I. P. A. Valor nutricional de coprodutos da produção de etanol de milho para suínos. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal do Mato Grosso/ Campus Sinop, Sinop-MT, 91f, 2016.

LINNEEN, S. K.; DEROUCHEY, J. M.; DRITZ, S.S.; GOODBAND, R.D.; TOKACH, M. D.; NELSSEN. J. L. Effects of dried distillers grains with solubles on growing and finishing pig performance in a commercial environment. Journal of Animal Science, v. 86, p. 1579–1587, 2008.

National Research Council. 1998. Nutrient Requirements of Swine.

PEDERSEN, C.; BOERSMA, M.G.; STEIN, H.H. Digestibility of energy and phosphorus in ten samples of distillers dried grains with soluble fed to growing pigs. Journal of Animal Science, v.85, p.1168-1176, 2007

ROSENTRATER, K., KALSCHEUR, K., GARCIA, A.& WRIGHT, C. (2019). Fuel ethanol coproducts for livestock diets. Distillers Grains Technology Council. Recuperado de https://distillersgrains.org/distillers-grains/

SHURSON, J., JOHNSTON L., BAIDOO, S., WHITNEY, M. 2009. Use of dried distillers grains with soluble (DDGS) in swine diets.

STEIN, H. H. Distillers dried grains with solubles (DDGS) in diets fed to swine. Swine Focus No. 001. Univ. of Illinois, Urbana- Champaign. 2007.

STEIN, H.H.; SHURSON, G.C. Board-Invited Review: The use and application of distillers dried grains with soluble (DDGS) in swine diets. Journal of Animal Science, v. 87, p.1292– 1303, 2009.

TRAN, H.; MORENO, R.; HINKLE. E. E.; BUNDY, J. W.; WALTER, J. BURLEY, T. E.; MILLER, P. S. Effect of corn distillers dried grains with solubles growth performance and health status indicators in weanling pigs. Journal of Animal Science, v.90, p. 790- 801, 16 2012.

UNEM <http://broadcast.com.br/cadernos/agro/?id=dzI4Y2taY3hHNDRDdUtieDU5Wml3UT09>

URRIOLA, P. E. AND STEIN, H. H. 2014. Effects of distillers dried grains with soluble on the digestibility of energy, DM, AA, and fiber, and intestinal transit time in a corn soybean meal diet fed to growing pigs. Journal of Animal Science, 87:145-157.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui